Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Vinhos & Viagens: Série especial de Natal – Vinhos e Panetones

2020-12-23 às 11:21

O Panetone, originário de Milão, na Itália, se tornou um item consumido no mundo todo e essencial na mesa de natal! Segundo a tradição italiana, o panetone foi criado para se ter um pão mais saboroso do que os do dia a dia para ser consumido na data natalina. No entanto, há diferentes “lendas” sobre o panetone, numa delas um jovem apaixonado italiano havia procurado emprego na padaria do pai de sua amada e lá criou um pão diferente feito de trigo, manteiga, ovos, passas e frutas cristalizadas. Sua receita se tornou um sucesso tão grande que ele conseguiu autorização para cortejar a sua amada.

Outra lenda conta que um italiano ajudante de cozinha, chamado Toni, deixou queimar a sobremesa do banquete de Ludovico, o Mouro, e, para substituir o doce queimado, Toni fez um pão macio com ovos, açúcar, passas e frutas cristalizadas. O pão fez tanto sucesso que Ludovico deu o nome de Pão de Toni ou “Pan de Toni”. Segundo a BBC há um manuscrito preservado na Biblioteca Ambrosiana de Milão que remonta à década de 1470 e comprova a existência do panetone nesse período.

Enfim, a iguaria foi trazida ao Brasil no ano de 1948 pelo imigrante italiano Carlo Bauducco, logo após a Segunda Guerra Mundial. Atualmente, o país já é o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas da originária Itália. Um fato curioso é que, na Itália, existem leis que regulamentam a produção de panetones, são regras relacionadas aos ingredientes e ao preparo.

Há alguns anos, muitos produtores se movimentam para garantir uma denominação de origem no país (assim como os vinhos), para que o produto tenha seu merecido respeito e reconhecimento.

Atualmente temos uma grande variedade de panetones, então vamos às dicas de harmonização. É importante destacar que nem vinhos brancos ou tintos tranquilos são os mais adequados para consumir com o panetone, pois, pela regra de semelhança, o ideal é seguir o mesmo teor de doçura. A impressão é que pode parecer um excesso de doces ao combinar panetone doce com vinho doce, no entanto eles completam perfeitamente o sabor e, quem faz sucesso nessa harmonização, são os espumantes. O gás carbônico da bebida junto à maciez do panetone gera uma combinação  de sensações muito agradáveis na boca.

Panetone com passas e frutas cristalizadas

É a versão mais conhecida entre os brasileiros e também no mundo. A harmonização mais recomendada para ele é com espumante de uva moscatel (Moscato) que, por ter leveza e toques florais e frutados, combina adequadamente com esse tipo de panetone. Uma outra opção é o vinho Porto Ruby, tinto fresco e frutado, e ainda temos os italianos Asti ou Moscato D´Asti, o segundo, por terem menos gás, não chega a ser considerado espumante e sim frisante, ambos harmonizam perfeitamente com o panetone. Além desses, recomendo ainda os espumantes demi-sec,  também chamados meio secos, indicados para quem não gosta de espumantes secos e também para evitar os mais doces como os moscatéis. Já para os apreciadores de espumantes mais secos, um espumante brut, com notas de frutas desidratadas e amêndoas, pode promover sabores diferenciados nessa harmonização, lembrando que temos excelentes rótulos de espumantes nacionais premiados internacionalmente.

Panetone com gotas de chocolate

Um vinho Marsala que, além de possuir um bom teor alcoólico, é adocicado com notas de frutas vermelhas, negras e frutas secas, faz com que esse rótulo fique muito apropriado para esse tipo de panetone.

Panetone com recheio de chocolate

Nesse caso a quantidade de chocolate presente no panetone é maior e, para adequar-se a sua intensidade, precisamos de um vinho intenso também, como vinhos licorosos à base de uvas tannat. No caso de chocolates mais amargos, invista em um vinho do Porto.

Panetone com recheio de doce de leite

Geralmente é recheado com generosas quantidades de doce, portanto, precisamos de um vinho com muita doçura, boa graduação alcoólica e notas de mel como é o caso de um Passito. O Porto Ruby é outra sugestão que também pode se encaixar nessa opção de panetone. Além desses, sugiro um colheita tardia, conhecido também como Late Harvest, untuoso, doce e encorpado, é de doçura natural e não fortificado e, por ter menor teor alcoólico, acompanha perfeitamente doces à base de leite. Para quem preferir algo mais luxuoso, temos os doces franceses de Sauterne.

Pandoro  

É uma variação do panetone, mas com um formato de estrela e não tem recheio. Geralmente são servidos com coberturas de açúcar confeiteiro com aroma de baunilha, e, para harmonizar com ele, um D’asti feito com uva moscatel levemente doce e de acidez moderada seria perfeito! Outro detalhe importante que não podemos esquecer é o de servir seu espumante na temperatura adequada, nesse caso 6 graus celsius é o ideal e faz toda a diferença!

Panetones Salgados

Sim, eles existem! Os recheios são variados, podem ser de queijo, de calabresa, etc, e, portanto, a harmonização perfeita varia conforme a composição, mas nada impede de pensarmos em uma harmonização regional, já que o panetone é originário da Itália. A sugestão é um sofisticado Barolo, mas se tiver muito calor e você preferir uma bebida mais refrescante, opte por um espumante italiano prosecco (espumante elaborado com a uva glera).

Que essas dicas possam contribuir para que sua noite de natal seja ainda mais bonita, alegre e saborosa!

Boas festas!

 

Vinhos & Viagens

por Patrícia Ecave

Patrícia Ecave é jornalista, digital Influencer e sommelière paranaense. Trabalhou com radiojornalismo, assessoria de imprensa, eventos, produção de vídeos, funcionalismo público, gestão administrativa e gestão de pessoas. Realizou viagens enogastronômicas e cursos no país e no exterior, como Vale dos Vinhedos, Cone sul e Europa. Organiza workshops, cursos, jantares harmonizados, treinamento de equipes e consultoria geral. Escreve sobre viagens, vinhos e gastronomia.